Vitamina A
Dados históricos
Entre os problemas de saúde que massacravam o mal nutrido escravo brasileiro, destacava-se a "oftalmia", descrita em 1865. Nessa época não eram conhecidos os constituintes nutricionais dos alimentos, mas os estudiosos intuíam que a deficiência de determinadas substâncias fornecidas pela alimentação poderia acarretar sérios distúrbios orgâni¬cos. Já os antigos gregos supunham a mesma coisa há dois milênios. Chegaram à verificação de que o fígado de animais curava prontamente determinada disfunção visual.
Em 1887, a cegueira noturna atacava endemicamente russos católicos ortodoxos durante seus austeros períodos de jejum devocional. Logo em seguida, a queratomalacia foi registrada em várias partes do mundo. Em 1913, Osborne, Mendell, McCoIlum e Davis começavam a observar em laboratório a relação entre certa deficiência dietética e distúrbios orgânicos como a xeroftalmia, abrindo o caminho para a posterior identificação da vitamina A, que elucidou a misteriosa relação entre as referidas doenças e a alimentação.
A vitamina A é também conhecida como retinol, vitamina da vista, vitamina protetora dos epitélios, vitamina antixeroftalmica, axeroftol e vitamina anti-infecciosa.
Quimicamente, a vitamina A é um álcool primário, polietilênico, lipossolúvel.
Classificações
A vitamina A abrange uma série de substâncias que podem ser divididas em dois grupos básicos:
- Grupo da vitamina A pré-formada, ou já formada;
- Grupo da pró-vitamina A (transformada em vitamina A no metabolismo).
A vitamina A pré-formada é encontrada em tecidos e produtos animais, e inclui substâncias como o retinol (álcool da vitamina A ou vitamina A1); o 3-deidro-retinal (aldeído da vitamina A); o ácido retinóico (ácido da vitamina A); o acetato de retinol (acetato da vitamina A) e o palmitato de retinol (palmitato de vitamina A).
A pró-vitamina A é encontrada em produtos de origem vegetal, mormente nos de coloração amarelada ou verde-escuro intensa, e abrange substâncias da ordem dos carotenos e carotenóides, destacando-se as seguintes: alfacaroteno, gamacaroteno, betacaroteno, criptoxantina, mixoxantina, equinenona, leprotina, afanina e afanicina.
Funções
A vitamina A exerce quatro funções básicas: constitui os pigmentos visuais, mantém o tecido epitelial, participa no processo de crescimento, participa no processo de reprodução.
1. A implicação visual da vitamina A é empiricamente conhecida desde tempos imemoriais. O retinal, ou aldeído da vitamina A, combina¬-se, na retina, com a proteína opsina para formar a púrpura visual, ou rodopsina, que é o elemento responsável pela visão na luz fraca, localizado mais precisamente nos bastonetes da retina. No momento em que a luz atinge a retina, a rodopsina se branqueia e se transforma em retinal e opsina, as substâncias de que se originou. O retinal é convertido em retinol, e assim é, em parte, perdido, devendo ser reposto. A parte do retinal que não é perdida, entretanto, retransforma-se em retinol, que se conjuga novamente à opsina para formar a rodopsina. Esse ciclo deve ser continuamente abastecido de vitamina A; caso contrário, a visão sob pouca luz ficará prejudicada, ocorrendo cegueira noturna, condição em que a eventual incidência de luz forte no escuro, como a luz de faróis à noite, no sentido oposto da estrada, provocará forte e perigosa ofuscação.
A visão em luz forte, relacionada à função dos cones retinianos, também depende da vitamina A, que se conjuga com uma proteína específica para formar a iodopsina, um pigmento violeta fotossensível.
2. A vitamina A é indispensável à diferenciação normal das células do tecido epitelial. Na sua carência, ocorre queratinização. Não só a pele depende da vitamina A para sua manutenção, mas todas as células de revestimento interno, como as células da parede do trato gastrintestinal, o epitélio da traquéia, o epitélio do aparelho geniturinário etc. Por isso, na falta de vitamina A, praticamente todos os órgãos ficam mais vulneráveis a doenças, especialmente infecções. Os tecidos ocu¬lares são atingidos com particular gravidade: ocorre ressecamento da conjuntiva e dos ductos lacrimais; a córnea se queratiniza e descama, instalando-se, por fim, se não houver administração de vitamina A, a cegueira irreversível. Nos ductos urinários, a queratinização favorece a formação de cálculos. A pele apresenta-se áspera e escamosa.
3. Os ossos e os dentes necessitam de vitamina A para o desenvol¬vimento normal. O crescimento do organismo como um todo depende do adequado suprimento dessa vitamina, que parece encontrar-se associada à utilização de proteína, ao aumento de peso e à mitose celular.
4. Segundo pesquisas em animais, a vitamina A é indispensável à função reprodutora. Durante a gestação, as necessidades dessa vitamina aumentam, e sua carência pode acarretar defeitos congênitos. Porcas com ração deficiente em vitamina A geram filhotes com olhos defeitu¬osos ou sem globo ocular. Em ratos, a deficiência dessa vitamina afeta o ciclo reprodutivo das fêmeas e provoca degeneração testicular nos machos.
Há muitas outras funções da vitamina A que permanecem no aguardo de pesquisas conclusivas. Estudos recentes, entretanto, demonstraram que a vitamina A (particularmente o beta-caroteno), associada às vitaminas E e C, diminui o ritmo do processo de envelhecimento, quando usada em doses calculadamente elevadas. Essas vitaminas apresentam efeito antioxidante, protegendo o organismo contra a ação destruidora dos radicais livres.
Sintomas de carência
Durante algum tempo, as reservas orgânicas de vitamina A, especi¬almente as reservas hepáticas, suprem a deficiência dietética. Não havendo reposição, contudo, os níveis de vitamina A no sangue caem abaixo do limiar de 40 unidades por cento, quando podem começar a surgir os sintomas de carência, destacando-se os seguintes:
- Hiperqueratose (ou hiperqueratinização), que se manifesta atra¬vés de ressecamento da pele, cabelos quebradiços e secos e unhas com pequenas estrias.
- Xeroftalmia ou conjuntiva seca e espessada. Os sinais oculares incluem cegueira noturna e diurna (nictalopia e hemeralopia, respecti¬vamente), mancha de Bitot, xerose da córnea, queratomalacia (degene¬ração da córnea) e cegueira irreversível.
Outros sintomas envolvem a atrofia das mucosas, manifestando¬-se freqüentemente no sistema digestivo (anorexia, hipotonia e distensão).
Hipervitaminose A
A ingestão excessiva de vitamina A quase sempre é ocasionada pelo uso prolongado de altas dosagens de medicamentos que contenham essa vitamina. Os sintomas de hipervitaminose assemelham-se, nalguns aspectos, aos de hipovitaminose:
- A intoxicação aguda geralmente ocorre em lactentes e crianças, podendo provocar hipertensão no crânio, dor de cabeça forte, vômitos, agitação, febre, coma e mesmo morte. Esses sintomas simulam um tumor cerebral.
- A intoxicação subaguda pode causar cefaléia retro-orbitária, sintomas oculares semelhantes aos da carência, pigmentação cutânea anormal, descamação, queda de cabelo, anorexia (perda de apetite), diarréia e constipação, náuseas e dores nas articulações.
- A intoxicação está associada a reações como anorexia (perda de apetite), emagrecimento, dores articulares, poliúria, prurido, tumefação óssea, hepatomegalia (aumento do fígado), inibição do crescimento ósseo e hipomenorréia (diminuição do fluxo menstrual).
- O excesso de vitamina A está relacionado à biossíntese aumen¬tada de colesterol e à aterosclerose.
- Quando a ingestão de pró-vitamina A é elevada, a pele pode assumir uma cor amarelada, o que, contudo, não indica qualquer anomalia. É o caso de crianças que tomam freqüentemente sopa de legumes com cenoura e/ou abóbora. Para desaparecer a pigmentação amarelada, basta suspender por alguns dias esses alimentos ou diminuir
sua quantidade.
Fontes alimentares
- Indicadas pelo programa lacto-ovo-vegetariano de alimentação, ricas em pró-vitamina A: vegetais amarelos ou verdes de coloração intensa, destacando-se a cenoura e a abóbora; frutas como manga, mamão e pequi; azeite de dendê, etc. Ricas em vitamina A pré-formada: leite integral e vários laticínios, destacando-se a nata e a gema de ovo.
- Não recomendadas pelo programa lacto-ovo-vegetariano¬-naturista de alimentação: óleo de fígado de peixes, fígado de qualquer animal, peixes, manteiga (ricos em vitamina A pré-formada).
Fatores de estabilidade e instabilidade
A vitamina A é relativamente resistente ao calor e à luz. O aqueci¬mento prolongado em presença de ar, a luz ultravioleta e a oxidação podem destrui-la. O frio e a vitamina E, de ação antioxidante, contribu¬em para preservar a vitamina A.
Necessidades nutricionais
Recomendam-se, para um adulto médio do sexo masculino, 1.000 RE ou 5.000 UI por dia, das quais 2.500 UI devem corresponder à vitamina A pré-formada, e 2.500 UI a precursores da vitamina A. Para uma mulher, devido à menor massa corporal, recomenda-se algo menos, 800 RE por dia. Na gravidez, recomendam-se 1.000 RE/dia, e na lactação, 1.200 RE/dia, requerimentos estes que aumentam com a idade.
Uma alimentação vegetarista, rica em legumes amarelos e verdes, supre satisfatoriamente esses requerimentos.
Teor de vitamina A em alguns alimentos (UI por 100g):
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Abóbora crua
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2.800
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Abóbora cozida
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1.000
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Abricó-do-pará
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6.650
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Alface (folha verde)
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4.250
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Alface (folha branca)
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240
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Alfafa
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15.800
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Ameixa vermelha
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2.000
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Beldroega
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5.415
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Bertalha
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6.930
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Brócolis (folhas cruas)
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15.000
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Brócolis (folhas cozidas)
|
500
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Buriti (polpa)
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50.000
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Caju vermelho
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7.000
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Caqui
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2.750
|
Caruru
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7.384
|
Cenoura
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14.500
|
Chicória
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3.800
|
Coentro
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7.185
|
Couve-manteiga
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7.500
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Couve-rábano
|
5.000
|
Damasco dessecado
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13.700
|
Dendê (fruto)
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101.656
|
Dente-de-leão
|
1.250
|
Escarola
|
21.000
|
Espinafre
|
7.385
|
Goiaba vermelha
|
2.450
|
Leite (cru, integral, de vaca)
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185
|
Mamão
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2.350
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Manga
|
2.200
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Mostarda (folha)
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20.000
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Nabo branco (folha)
|
4.735
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Óleo de buriti
|
500.000
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Óleo de piqui
|
100.700
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Óleo de tucumã
|
313.000
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Pêssego
|
3.750
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Pimentão vermelho
|
6.500
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Pupunha crua, sem casca
|
14.800
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Salsa
|
70.000
|
Tangerina
|
3.015
|
Tomate
|
850
|
Tucumã
|
51.700
|